Quer ver um sommelier irritado? É fácil. É só esperar que alguém que nunca trabalhou com vinho em um restaurante fale para ele ou ela que também é um sommelier. Independente da familiaridade que o cliente tenha com o vinho, o que faz um sommelier, é o serviço, e não sua erudição sobre o tema. Verdade que o seu conhecimento é importante, mas a profissão não é definida por ele. O que o define como profissional é a sua habilidade de entender e mediar os interesses do seu empregador e o seu cliente.
Sejamos francos, uma carta de vinhos bem elaborada, é uma delicada montagem de elementos que concilia todos os aspectos comerciais de um restaurante, e não uma seleção dos melhores vinhos disponíveis no mercado. Ela deve considerar as relações comerciais entre o restaurante e seus fornecedores, logística, custo em tempo e dinheiro para sua manutenção, a identidade do estabelecimento assim como as preferencias de sua clientela. E este é um dos aspectos mais importantes do profissional. Tem o trabalho de equilibrista em conciliar todos estes elementos para enfim, poder atende-lo com qualidade.
Um cliente que frequenta um restaurante e procura por um sommelier, não o faz por necessidade, mas por prazer, por entretenimento. Em sua busca hedonista, ou procura um breve escape de seu cotidiano ou uma maneira de torna-lo ainda mais prazeroso. E o bom profissional está ciente disso. Conhece o papel que deve desempenhar. Precisa ser eficiente em entender o seu cliente, sugerir a melhor solução disponível e, não menos importante, sancionar qualquer a escolha do cliente. E note que não escrevi apoiar. O papel dele é jogar pelas suas regras como consumidor, e não impor a sua presença.
É verdade que escrevi lá no inicio deste texto a receita para tirar um sommelier do sério. Lógico que foi apenas uma provocação. O bom profissional nunca vai demonstrar reprovação. Afinal, um dos pilares fundamentais do bom profissional, e o de te fazer sentir bem acolhido no restaurante. O sommelier é um malabarista por definição, e está em constante adaptação para combinar as suas responsabilidades com a constante mudança de ritmo de seus clientes. E é isso o que define o profissional.
Portanto, fique tranquilo, ele não está ali para julga-lo. Fale com ele ou ela, e indique o tipo de experiência que gostaria de ter e o quanto está disposto a gastar. Ai sim, a reação do profissional pode ficar muito clara, até nos mais sisudos dos profissionais.
Texto originalmente publicado na Onivino