Há quem anseie pela ceia natalina semanas antes do dia 24. Para muitos é como uma lembrança querida. Sua familiaridade, aromas e sabores intensos e extravagantes oferecem um conforto que deve se assemelhar a lembrança de um abraço apertado daquele ente querido que encontramos menos do que gostaríamos. Para mim, seria como um abraço apertado da minha avó. Mesmo depois de décadas de sua partida, eu lembro de tudo, dos seus braços que eram mais fortes do que pareciam, de sua altura, cheiro e das palavras sempre carinhosas e bem-humoradas. Mas me lembro principalmente do conforto que sentia pelo seu amor incondicional. Não mudaria nada.
Natal é familiaridade, é conforto. Não o ideal de conforto que vemos em uma propaganda ou filme, mas é algo nosso, da nossa história. São as tradições e receitas de nossa família e por isso queremos o acolhimento de nossos caprichos.
No mundo do vinho, esses caprichos se refletem em idiossincrasias gastronômicas. Gostamos de um vinho e o bebemos com qualquer comida, independente da opinião de um especialista. É verdade que algumas destas nossas combinações não funcionam, mas mesmo seguindo as regras para uma boa harmonização, nem sempre temos o sucesso desejado. Prazer é uma coisa muito particular.
O papel de um especialista é ouvir, se adaptar e guiar o consumidor. Não adianta formatar um tipo de resposta e pronto. Portanto, a ideia é que vocês usem estas sugestões como um mapa para guiar em uma escolha com o estilo de sua preferência e que busque entreter e sem complicar.
Para o presunto de Natal que muitas vezes tem um componente como laranja ou mel, tende a funcionar bem com tintos brilhantes e frutados como o Syrah de um clima quente, ou um blend típico do Rhone, o GSM; Grenache, Syrah, Mourvèdre. Caso seja um pouco menos doce, um Amarone ou outro vinho que é produzido de forma similar, o apassimento, pode trazer o elemento de intensidade que complementa a festa.
Por outro lado, o principal da mesa, o peru é uma carne magra, com pouca gordura. Isso pode acentuar a sensação áspera dos taninos na boca, eclipsando outros sabores, enquanto o sabor salgado do peru também pode tornar os taninos mais amargos. Portanto, o ideal é que seus vinhos correspondam a um vinho branco encorpado ou um tinto médio, com tanino baixo ou médio e acidez relativamente alta.
A escolha de rótulos com alguns anos de garrafa traz taninos mais macios e alguma complexidade a harmonização. O Rioja maduro pode combinar aqueles adoráveis aromas de terra e cogumelos com frutas vermelhas brilhantes e taninos de peso médio. Outros tintos clássicos com um espectro mais extremo seriam Barolo ou Chianti Classico com um pouco mais de idade.
A Pinot Noir com suas várias facetas ao redor do mundo é frequentemente vista como uma ótima combinação para jantares com peru.
Finalmente, que tal um branco? É interessante pensar em um vinho que possa lidar com a doçura do presunto. Um espumante demi sec como um Moscatel espumante ou a aromática Gewürztraminer com algum açúcar residual poderiam ser um caminho alternativo para a uma harmonização. Eles também seriam uma ótima opção para as deliciosas rabanadas. Caso contrário, procure brancos encorpados, como Viognier, ou a Chenin Blanc.
E para a nossa querida ave natalina, os melhores Chardonnay exalam uma riqueza de carvalho que pode dar notas de especiarias doces, enquanto o ácido lático cremoso realmente ajuda com uma carne que às vezes pode estar seca. Uma espinha dorsal de acidez ajuda a equilibrar os sabores.
Tintos
- Beaujolais / Gamay
- Zinfandel / Primitivo & Negroamaro
- Châteauneuf-du-Pape / Ou blends inspirados no Rhone (Grenache, Syrah e Mourvèdre)
- Pinotage
- Shiraz / Syrah
- Pinot Noir
- Bordeaux maduro, Rioja ou Barolo
- Beaujolais (Gamay)
- Amarone e vinhos com uvas passificadas
Brancos
- Sémillon
- Viognier
- Gewürztraminer
- Chardonnay encorpado, como os da Borgonha ou Novo Mundo
Feliz Natal!
Paulo